10 de jun. de 2009

Futebol x Rugby na África do Sul

Com os preparativos para a Copa do Mundo de Futebol de 2010 na África do Sul, tenho ouvido falar em rugby nos canais abertos, coisa que pouco acontece normalmente e isso é muito bom para o esporte, mesmo que nisso tudo ele seja apenas o coadjuvante dessa história. Inclusive no último domingo, o Nelson Mandela Bay, primeiro estádio construído especialmente para o Mundial de 2010, foi inaugurado e terá uma partida não de futebol para estrear o estádio, mas sim de rugby.

Hoje o Uol Esporte e o Yahoo Notícias publicaram duas matérias sobre este tema.

Turma do rúgbi na África do Sul se rende e debate futebol até em churrasco
Bruno Freitas
Em Bloemfontein (Uol Esporte)

Existe uma clara divisão na relação com os esportes na África do Sul. De um lado os negros, apaixonados por futebol. Do outro, os brancos, que impulsionam as modalidades mais bem-sucedidas da nação, como o rúgbi e o críquete, mas que, com o apelo próximo da Copa do Mundo, estão aos poucos se rendendo ao tal football. O predomínio de negros entre os atletas da seleção de futebol e o de brancos na equipe de rúgbi, atual campeã mundial, é uma comprovação desse cenário de divisão.

No entanto, a possibilidade de organizar a Copa do Mundo e receber visitantes de todos os cantos do planeta tem mexido com a "turma do rúgbi", tradicionalmente alheia ao futebol, numa oportunidade de interação social em um país marcado por tensão racial não muito distante. "Até dois anos atrás, ninguém falava em futebol. Hoje é assunto até nos churrascos, reuniões de amigos. As pessoas querem comentar quem têm mais chances, como será a Copa do Mundo", diz Hendrik Gronjé, editor de esportes do Volksblad, da cidade de Bloemfontein."Nos churrascos as pessoas falam de como tem sido bom o trabalho do Danny Jordaan (presidente do Comitê Organizador da Copa), de como o evento pode nos transformar em uma força. Estão animadas", comenta Hannes Nienaber, jornalista e membro do clube "Escola de Rúgbi" para fãs da modalidade em Bloemfontein.

A cidade que abriga a estreia do Brasil na Copa das Confederações (na próxima segunda-feira, contra o Egito) apresenta ainda um caso de oposição de interesse entre futebol e rúgbi.Além da seleção brasileira, outra 'bandeira' do esporte internacional passará por Bloemfontein nas próximas semanas. Se trata dos All Blacks, como é conhecido o time de rúgbi da Nova Zelândia, que enfrentará a campeã mundial África do Sul em partida amistosa em julho."O Celtic, de Bloemfontein, é o time de futebol mais popular do país, mesmo sempre brigando contra o rebaixamento.

Seus fãs estão na população negra, que irão prestigiar a Copa das Confederações. Para nós (brancos), o evento mais importante do ano será mesmo o amistoso com os All Blacks. O país vai parar por isso, o estádio estará lotado, com muita gente de fora. Mas também vamos dar uma chance ao futebol", diz o editor do jornal da cidade.

País do rugby, África do Sul será invadida pelo futebol
Yahoo Notícias

A África do Sul, que tem o rugby como esporte nacional, trocará as mãos pelos pés a partir do dia 14 com a disputa da Copa das Confederações, reunindo oito seleções dos cinco continentes - incluindo Brasil, Espanha e Itália.

A equipe sul-africana de rugby, cujo apelido é Springbok - uma espécie de antílope da fauna local - é uma das cinco maiores seleções do esporte e ostenta os títulos de campeã da Copa do Mundo em 1995 e 2007.

Enquanto a África do Sul compartilha a hegemonia do rugby no hemisfério sul com Austrália e Nova Zelândia e está à altura das equipes das Ilhas Britânicas e da França, seu papel é de muito menos destaque no mundo do futebol.

Na segunda metade do século XIX, quando ambos os esportes tomaram caminhos diferentes pouco tempo após surgirem de um conceito esportivo comum, o rugby cresceu muito mais.
A célebre frase britânica que diz que "o futebol é um jogo de cavalheiros praticado por vândalos e o rugby um jogo de vândalos praticado por cavalheiros" teve mais conotações raciais que sociais ou esportivas na África do Sul.

Algumas das diferenças entre o futebol e o rugby partem da época do "apartheid" (política de segregação racial desenvolvida em território sul-africano). "O rugby não era o esporte da África do Sul negra", afirmou o escritor britânico John Carlin no livro "The Human Factor: Nelson Mandela and the Game that Changed the World". ("O Fator Humano: Nelson Mandela e o Jogo que Mudou o Mundo", tradução livre). A obra explica como o líder sul-africano Nelson Mandela, recém-eleito presidente, usou o rugby como forma de tentar unir brancos e negros em 1995, quando o país sediou a Copa do Mundo do esporte e venceu.

Isso não significa que o futebol fosse o esporte nacional entre a população negra do país. Tradicionalmente os integrantes dos Springboks eram brancos - mais precisamente africâners (descendentes dos colonos holandeses) -, e os negros gostavam mais de futebol. Carlin afirma em seu livro que Mandela, que finalmente aproveitou o esporte da bola oval para juntar a população, sentiu uma "clara antipatia" pelo rugby ao longo de sua vida. Segundo o autor do livro, o ex-presidente sul-africano considerava que era um esporte "branco e, especialmente, dos africâners", e os negros viam a seleção de rugby sul-africana como "um símbolo da opressão do apartheid".

Hoje rugby e futebol convivem lado a lado no país, mas internacionalmente os Springboks têm muito mais fama que os Bafana, Bafana ("Os rapazes"), apelido da seleção nacional de futebol - comandada atualmente pelo técnico brasileiro Joel Santana.
Durante muitos anos, o apartheid também deixou os negros fora da prática do futebol. Até a Fifa excluiu a África do Sul do organismo pela política de discriminação racial. Mas isso não impediu certa estrutura do esporte no país, com competições profissionais desde 1959 - contudo, exclusivas para os brancos.

A federação sul-africana de futebol existe desde 1991, como parte de um longo processo de unificação que erradicou qualquer rastro de divisão racial do esporte do país. A admissão da África do Sul na Fifa se deu há 17 anos, em junho de 1992. Em 1996, a África do Sul ressurgiu no cenário do futebol internacional ao conquistar a Copa Africana de Nações como anfitriã, e pouco depois foi aos Mundiais de 1998 e 2002. Em 2006, não conseguiu vaga à Alemanha.

Agora a África do Sul espera não fazer feio ao receber o primeiro Mundial de futebol no continente africano, em 2010, e quer apresentar seu cartão de visitas com uma boa participação na Copa das Confederações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário