25 de abr. de 2010

Rugby com sotaque nordestino

Foto: Júlio Jacobina/DP/D. A Press

Esporte de origem inglesa ganha cada vez mais adeptos na região e recebe o Campeonato Nordestino, em Jaboatão dos Guararapes

A primeira vez que convocou uma turma - através de sites de relacionamentos - para jogar uma partida de rugby, o argentino Marcelo Blanco, 37, ficou a ver navios. Nenhuma das sete pessoas que haviam confirmado presença na Avenida Boa Viagem apareceu. "Ficamos somente eu e a bola. Pensei que o esporte não ia vingar por aqui", lembra Marcelo, que chegou ao Recife há nove anos, transferido pela empresa onde trabalha. Nem mesmo a curiosidade de bater uma bolinha oval foi capaz de atrair o grupo. A cena, desoladora para o estrangeiro, ocorreu em 2002. Hoje, porém, o cenário do rugby pernambucano é outro. E adeptos não faltam.

Duas vezes por semana, no campo do clube de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, em Cidade Universitária, as equipes masculina e feminina do Recife Rugby Club e Paulista Rugby Club - formada apenas por jovens com idade entre 15 e 18 anos - treinam à exaustão. O aquecimento dos times tem início às 20h. Fica fácil imaginar que a parte tática e técnica do treinamento quase invade a madrugada. Os atletas que, aos poucos foram se identificando com o esporte, esbanjam disposição e não se queixam.

Neste final de semana, os três representantes estaduais da modalidade, que teve origem na Inglaterra, estarão disputando a 5ª edição do Campeonato Nordestino no Estádio Jefferson de Freitas, em Jaboatão dos Guararapes. Cerca de 160 atletas são esperados na competição, que vai contar com a presença de 15 equipes, vindas do Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Bahia.

Dos três times locais em ação apenas um é estreante em campeonatos. Os meninos do Paulista Rugby Club trocaram os primeiros passes com a bola, produzida em couro ou material sintético, em dezembro do ano passado. "Na verdade começamos a jogar rugby no videogame. Tínhamos uma bola de futebol americano e jogávamos na praia. Teve um dia que fui no rapaz que compro CDs atrás de jogos de futebol americano para saber mais das regras, aí ele me ofereceu um outro jogo, o rugby. No começo a gente não sabia nem para onde ia esse tal de rugby", conta Irapuã Pereira dos Santos, apaixonado por videogame, pai do atleta de rugby Ítalo Henrique, de 16 anos, e motorista oficial da turma de Maranguape II, que treina o esporte na UFPE.

Na Kombi de Irapuã vem mais de dez. E ele não pode ver um adolescente perambulando pelas ruas do bairro onde mora, que logo os convida para conhecer o tal do rugby. "Hoje trouxe esse dois aí, que são do Janga. Acabei me envolvendo e gostando do esporte", acrescenta, referindo a dois garotos que observam a movimentação dos times, depois de trocarem uns passes com Irapuã.

A habilidade com o controle do videogame ajudou e muito na formação dos jovens, segundo o técnico Marcelo Blanco. "Fiquei surpreso quando eles vieram aqui pela primeira vez. Parecia que não ia parar de sair gente da Kombi. Eles já sabiam as principais regras do jogo graças ao videogame", afirma Blanco.

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